BRANCO PRETO

BRANCO PRETO
Branca era cega, mas uma mulher de virtude forte.
Eu descrevo a vida como ela gira em torno da vida. Nós somos como fogos de artificio que explodem quebrando o silêncio das madrugadas frias. Geralmente os espíritos saem de seus casulos nestas madrugadas e vão viajar em busca de suas necessidades.
Chegou aqui um jaguar negro. Ele veio me buscar para a casa grande para cumprir meus desígnios nesta seara de onde eu vim. Eu o conheço. É um irmão que também luta na sua personalidade para vencer a sua triste história dentro da insatisfação de sua sociedade. Vive sorrindo carregando sua tristeza dentro do coração.
Ao tentar voltarmos as coisas estavam perigosas. Como eu o conheci em terra ele era a mesma coisa no espiritual: muito agitado. Gosta de correr e tomar decisões tempestivas.
Não chegamos. Deu um problema nesta estrada espiritual. As forças reagiram contra impedindo de voltarmos. Como seu corpo físico estava na grande seara para ele seria mais fácil, era somente respirar e seria puxado de volta. Agora para mim não, eu estava aqui no sul. As barreiras se formam no etérico plano impedindo de as realizações chegarem no auge das liberdades do jaguar cumprir seu sacerdócio. Muitas vezes estas barreiras são criadas pelo próprio jaguar que tem medo de perder sua posição neste cenário. Seria como um calvário idolatrado a dois mil anos.
Parados no meio do caminho eu observava com atenção o motivo de tudo isso. Já meu irmão agitado não prestava atenção ao seu redor e o motivo de termos parado.
A mulher branca se apresentou naquele caminho. Era uma casinha no alto de uma elevação caiada de branco. Fui e pedi permissão para entrar.
_ Sim, vocês podem entrar!
Entramos para pedir ajuda, mas era ela quem precisava de ajuda. Por fora era uma simples casinha, mas por dentro era enorme. Parecia com um grande castelo.
Fiquei observando esta mulher que andava sem derrubar nada. Ela tinha gravado em sua consciência tudo que havia dentro deste caminho.
Eu não queria entrar na sua individualidade para saber o porquê de sua cegueira. Não é do meu feitio bisbilhotar o segredo. Eu só tento impedir de destruírem a moral do próximo com coisas desnecessárias.
Foi nesta viagem que eu escutei um pedido de ajuda. A ceguinha de Deus. Sua vida na terra também se apagou pelos olhos. Teve que conviver com sua cegueira carmica para pagar pelos seus erros. A pior cegueira meus irmão é a cegueira do espírito.
Eu vejo na terra muitos cegos se perdendo pelos desencontros do falso amor. Amar é respeitar seu amor. É olhar suas virtudes e não seus erros. Enquanto olhamos pela vida terrena esquecemos de quem somos.
A mulher queria nos agradar de todo jeito, pois a sua solidão neste mundo era de dois lados. Cega e esquecida. Ficamos um tempo necessário para troca de energias. Aquele enorme castelo escuro dava medo. Não havia luzes de candeeiros porque não era necessário. Somente a luz do sol interior respondia na escuridão do coração.
Eu olhei e cadê o jaguar. Ele havia sumido. Acho que seu corpo físico respirou. Eu ainda fiquei um tempo para registrar esta passagem. Dar uma direção para ela. Eu amarrei um fio em sua mão esquerda e a outra ponta eu trouxe para cá. Quando ela sentir necessidade poderá chamar puxando o cordão ou vir por ele até o templo.
Assim não perderá ou se perderá neste mundo.
Estamos trabalhando muito para renovação de nossos compromissos espirituais. Não na terra, mas no céu espiritual.
Voltei. Há! Os mundos se renovam a cada amanhecer. A noite esconde os protestos de uma vida cheia de contrastes que refletem nossas batalhas pela consciência.
Estamos vivos, respirando, então existimos.
Salve Deus!
Adjunto Apurê
An/Un
26.01.2024

Seja bem-vindo ao vale dos deuses!