Tia Neiva

TIA NEIVA

Com a aproximação do Terceiro Milênio, surgiu a necessidade de mais uma vez ser feita a integração das raízes capelinas neste planeta. Um espírito foi preparado, na Espiritualidade Maior, para trazer à Terra a Doutrina de Pai Seta Branca, após experiência de muitos milênios, portando a força dos Equitumans, a ciência dos Tumuchy e tendo como principal missão a reunião dos Jaguares e a criação da figura inovadora do Doutrinador, manipulando as forças projetadas pela Corrente Indiana do Espaço e pelas Correntes Brancas do Oriente Maior. Reencarna no sertão brasileiro, em Propriá, Sergipe, como uma menina que se chamou Neiva, nascida a 30 de outubro de 1925 e que desencarnou em Brasília, DF, no dia 15 de novembro de 1985, já tendo cumprido sua jornada em meio a muitas dificuldades e grandes realizações. Em 1949, com 22 anos e quatro filhos, Neiva ficou viúva. Com sua forte personalidade, ela não se deixou abater. Comprou um caminhão e tirou habilitação profissional, a primeira concedida a uma mulher no Brasil, e começou a transportar cargas por todo o país. Em 1957, fixou-se em Goiânia (GO), e passou a dirigir ônibus, porém mantendo seus caminhões em serviço. Nesse mesmo ano, com a oportunidade da construção da nova capital – Brasília -, Neiva mudou-se com a família para o Núcleo Bandeirante, ponto inicial das obras da nova cidade, trabalhando com caminhões na NOVACAP. Ainda com 32 anos, sua mediunidade abriu-se: revelou-se sua clarividência. Durante mais um tempo, Neiva via e ouvia os espíritos e podia prever o futuro e revelar o passado das pessoas, o que a deixava desesperada por ter tido uma formação familiar rigorosamente católica. Sua trajetória, então, passou por penosa adaptação para aceitação de sua missão. O potencial de Tia Neiva não pode ser resumido na clarividência, pois ela foi dotada de mediunidade universal, isto é, possuía todos os tipos de mediunidade, qualidade peculiar de um ser Iluminado, pois, segundo a Lei dos Grandes Iniciados, somente um Iluminado pode iniciar alguém. Essa condição permitiu que, dentro de modesta e simples condições, Tia Neiva vivesse e agisse, simultaneamente, em vários planos existenciais com plena consciência em cada um desses planos, visualizando o passado ou o futuro, traduzindo suas visões em termos coerentes e racionais. Podia ver e conversar com seres de outras dimensões e de planos inferiores ou superiores, realizava transportes e desdobramentos, o que permitiu que fizesse um curso no Tibet, com o Mestre Humarran, sem que seu corpo físico de deslocasse do Vale do Amanhecer. Em 1958 deixou o Núcleo Bandeirante, onde começara sua missão espiritualista, e junto com seus filhos Gilberto, Carmem Lúcia, Vera Lúcia e Raul, fundou, em 8 de novembro de 1959, a União Espiritualista Seta Branca – UESB, na Serra do Ouro, próximo a Alexânia, Goiás, dando início à missão que recebera de Pai Seta Branca. Em 9 de novembro de 1959 ingressou na Alta Magia de Nosso Senhor Jesus Cristo. Em 1964 mudou-se para Taguatinga, onde funcionou a Ordem Espiritualista Cristã, transferindo-se para o atual Vale do Amanhecer, em Planaltina, DF, em 1969. Pela Doutrina, Tia Neiva implantou a importante conduta doutrinária em seus médiuns, capacitando-os ao atendimento sob a ação das forças iniciáticas, sem precisar da manifestação dos pacientes, que não precisam revelar quem são, o que fazem ou de onde vêm. Vivificando o Evangelho de Jesus, simples e humana, foi Tia Neiva uma grande mãe para todos nós, sempre nos tratando com amor e carinho, compreensão e tolerância, suavemente nos impondo o respeito e a obediência a ela devidos como líder de uma Corrente cuja grandeza e limites não podemos alcançar. Sua vida, suas dificuldades, seu sofrimento, sua Doutrina, de tudo consta uma grande parte nos diversos trabalhos editados pelas Obras Sociais da Ordem Espiritualista Cristã, atual entidade que administra o Vale do Amanhecer – “Sob os Olhos da Clarividente”, “2000 – A Conjunção de Dois Planos” e “Minha Vida, Meus Amores”. No Evangelho de João (XIV, 12 a 17 e 26), nos é transmitida a palavra de Jesus: Na verdade vos digo que aquele que crê em mim também fará as obras que eu faço, e as fará maiores do que estas, porque eu vou para meu Pai! E tudo quanto pedirdes em meu nome, eu o farei, para que o Pai seja glorificado no Filho. Se pedirdes alguma coisa em meu nome, eu a farei! Se me amardes, guardareis os meus mandamentos. E eu rogarei ao Pai e ele vos dará outro Consolador, para que fique convosco para sempre: o Espírito da Verdade, que o mundo não pode receber, porque não o vê nem o conhece; mas vós os conheceis, porque habita convosco e estará em vós! (…) Mas aquele Consolador – o Espírito Santo – que o Pai enviará em nome, esse vos ensinará todas as coisas e vos fará lembrar de tudo quanto vos tenho dito! Na Doutrina do Amanhecer, sabemos que somos espíritos imortais, dotados de livre arbítrio e da consciência de nossas missões, trazendo em nosso espírito as marcas das vivências em diversos mundos, em diferentes épocas, buscando o nosso desenvolvimento para que melhor possamos manipular as forças que nos competem, agindo na Lei do Auxílio em benefício de nossos irmãos encarnados e desencarnados, aliviando nosso carma pela Lei de Causa e Efeito, procurando a afinidade com nossos irmãos evoluídos e a harmonia com os Espíritos de Luz, através da busca do conhecimento e aprimoramento de nossa conduta doutrinária. E tudo isso devemos à nossa Mãe Clarividente, Tia Neiva, Koatay 108, que representa, para nós, aquele ESPÍRITO DA VERDADE, porque nos trouxe uma nova esperança, através desta Doutrina que nos libertou de dogmas religiosos e superstições, fazendo, em nossas mentes, a substituição de velhos ensinamentos, que exigiam a fé cega e desprezavam a razão, por noções simples e claras, com bases científicas, com idéias diretas e profundas que nos permitem entender o Universo que nos cerca, buscando o precioso veio da verdade nas diferentes correntes, religiões, seitas e filosofias, onde podemos buscar as grandes linhas trazidas de Capela, nos harmonizando e conciliando a Fé e a Ciência que nos impulsam para a Nova Era. Em mensagem de 9 de abril de 1978, Tia Neiva nos disse: “… É somente pela força do Jaguar, nesta Doutrina do Amanhecer, e na dedicação constante de nossas vidas, por amor, que podemos manipular as energias e transformar o ódio, a calúnia e a inveja em amor e humildade, nos corações que, doentes de espírito, permanecem no erro. Quantos de perdem por falta de conhecimento e por não terem a sua lei. Nós temos a nossa Lei, que é o amor e o espírito da verdade! Vamos amar, e na simplicidade de nosso coração, distribuir tudo o que recebermos, na Lei do Auxílio, aos nossos semelhantes…” Fazemos aqui apenas este registro singelo, como uma pequena homenagem a este grandioso espírito.

· “Jesus! No descortinar desta missão, sinto renascer o espírito da verdade na missão que me foi confiada: o Doutrinador! É por ele, e a bem dele, que venho, nesta bendita hora, Te entregar os meus olhos. Lembra-Te, Senhor, de protegê-los até que eu, se por vaidade, negar o Teu santo nome, mistificar a minha clarividência, usar as minhas forças mediúnicas para o Mal, tentar escravizar os sentimentos dos que me cercam ou quando, desesperados, me procurarem. Serei sábia, porque viverás em mim!” (Tia Neiva, Juramento, 1.5.58)

· “Naquela tarde, mais do que nunca, um misto de sonho e de realidade, uma coisa esquisita, parecia comprimir-se na minha cabeça. Saí caminhando, fui até o meu tronco no pique da serra. Visitei todos do pequeno grupo. Comecei a pensar que aquela coisa estranha fosse um aviso, uma mensagem, que alguém do além me tivesse avisando. Sim, realmente era uma mensagem. Mais do que uma mensagem, recebi MAYANTE, o rico mantra de abertura, que tanto se afirmou em todo o meu ser, fazendo-me encontrar comigo mesma, harmonizando o meu SOL INTERIOR. Porém, não ficou somente nesta tarde. Dali parti e fui decidir, com amor, a minha vida, no quadro sentimental emocional. A partir dali, fui, fisicamente, seguindo o meu destino e fui, decidida, na continuação do meu sacerdócio e de minha missão. Era 9 de novembro de 1959.” (Tia Neiva)

· “Até aquele momento eu era alguém de difícil entendimento, para com os outros e para comigo mesmo. Talvez a dor provocada pelo drástico desenlace na minha vida. Meus tumultos não cessavam nunca. Sempre me sentia como um rio que transborda do seu leito e vai extravasando, empurrando a margem, derrubando as paisagens, profetizando desavenças, dúvidas e afirmando, também, o ESPÍRITO DA VERDADE. Porém, derrubando por terra, levando à dor pela visão transtornada. Tudo que estava escrito, tudo que saia de mim, tinha esse tumulto errado. A minha insegurança ou falta de amor me fazia perigosa, indesejada, pelas constantes revelações trágicas que faziam sofrer a mim e aos outros. Essa tristeza revelava melancolia e essa coisa esquisita que se vinha comprimindo dentro de minha mente atormentada, dizia, também, que já era tempo de mudar o caminho. Resolvi, então, partir para o meu objetivo, sentir, realmente o CANTO que do céu me chegava aos ouvidos. Obedeci meu pai SIMIROMBA, rumei aos montes do TIBETE, onde ouvi o primeiro CANTO UNIVERSAL do velho incansável HUMARRAN, mestre querido, que no seu aposento em LHASSA, me deu o que eu jamais pensei em receber: Me ensinou a viagem para estar com ele, me ensinou o sentido comum da vida fora da matéria. Em suma, tirou a seqüela que me fazia amaldiçoar a vida obscura e dolorosa. Era primeiro de Janeiro de 1960!” (Tia Neiva)

· “Oh, meu Pai Seta Branca! Fizeste-me eterna em dois planos! Tal foi o Teu prazer. meu Pai. Esta vida frágil, que se esvazia a todo momento no entanto, manténs com amor e paz. Soprando-me, fizeste-me espalhar melodias eternamente novas. As Tuas mãos no meu pequeno coração, sem esquecer os limites da alegria, ensinaram-me esta melodia universal!… Sei que meu canto Te dá prazer, meu Pai, e só poderei aqui permanecer pelo Teu amor, até que, um dia, termine esta missão e enquanto Teus dons infinitos se manifestarem através de minhas mãos. Quando me ordenas, meu coração parece que vai arrebentar de orgulho! Olho para o Teu rosto e os meus olhos se enchem de lágrimas… Tudo o que é bom espero em minha vida, pedindo a Deus por tudo que vem desta missão. Abençoado sejas, meu Pai, por este sacerdócio que me destes. Sua bênção!” (Tia Neiva, Infusão, 18.5.78)

· “Jesus! Eu mergulho fundo no abismo do oceano em forma de espaço para obter pérolas perfeitas para enfeitar aqueles que passaram o tempo de brincar. Então, sabendo que um olhar lá do Céu azul me internara em silêncio, quando eu abandonar o leme sei que é chegada a hora e alguém me substituirá em meu posto, e o que resta fazer destas pérolas será feito instantaneamente. Como é perfeita esta luta! Então, não sairei mais, de porto em porto, neste barco estragado pelos temporais. E agora anseio por morrer dentro do que não morre! Eu modularei, a meu ver, as minhas notas no eterno… nas pracinhas… nos albergues… onde for meu! Soluçarei ao revelar o meu último segredo. Mais uma vez depositarei meu som silencioso aos pés dos que me levam de porta em porta, fazendo eu me encontrar comigo. Todas as lições que aprendi! Eles me mostraram os caminhos secretos e puseram diante de meus olhos infinitas estrelas… Eles me guiam durante o dia inteiro pelos mistérios dos carmas nos prazeres e na dor. E, por fim, me envolveram nos caminhos da Doutrina e me fizeram Mãe, em Cristo Jesus, do Doutrinador e me ensinaram o canto imortal e me fizeram amor!… Como a nuvem chuvosa do inverno, que se arqueia toda sob seu aguaceiro, deixe, Jesus, que todo o meu espírito se incline de porta em porta, numa única saudação: o Doutrinador!” (Tia Neiva, Infusão, 18.5.78)

· “Oh, meu Pai Seta Branca! Fizeste-me eterna em dois planos, tal foi o teu prazer meu Pai! Esta vida frágil que se esvazia a todo momento, no entanto, manténs com amor e paz. Soprando-me fizeste espalhar melodias eternamente novas. As tuas mãos no meu pequeno coração, sem esquecer os limites da alegria, ensinando-me esta melodia universal. Sei que o meu canto te dá prazer, meu Pai, e que só poderei aqui permanecer, pelo teu amor, até que, um dia, termine nesta missão e teus dons infinitos manifestar através de minhas pequenas mãos. Quando me ordenas, meu coração parece que vai arrebentar de orgulho. Olho para o teu rosto e os meus olhos se enchem de lágrimas. Tudo o que é bom espero em minha vida, pedindo a Deus por tudo que vem desta missão. Abençoado seja, meu Pai, este sacerdócio que me deste!” (Tia Neiva. 19.5.78)

· “Ficava calada quando me perguntavam onde eu ia. Ouvindo o praguejar daqueles que outrora me amavam, sentia imensamente a perda que estava havendo. Porém, chorar, chorar, somente era o que me vinha quando todos me acusavam de fanática, ignorando o meu drama, e eu sem nada poder dizer… De Deus, não foi dado ao Homem criar. Foi dado, apenas, crescer! E, sozinha, me ponho a rimar, para que novas luzes venham a surgir, sempre pensando: Por que tantos conflitos? Por que tantas divergências, se tudo já está escrito, se sabemos que só o amor nos dá força e equilíbrio? Amando, minha alma irá longe, além do infinito, sem véu, sem grinalda e sem tempo, longe dos mundos aflitos… Viajei, muito viajei, para aos meus amores voltar. Caminhando, sempre caminhando, novas ilusões, novos destinos, porém tudo, sem criar, aumentei com amor! Por fim, um lindo rosário de salmos foi tudo o que formei. Os meus amores voltaram, o meu caminho retornei…” (Tia Neiva, 25.6.78)

· “Quantas coisas que eu guardo em segredo,/ Quantas coisas que eu não posso revelar./ Dizer claramente o que vejo,/ Impossível, preciso sempre ocultar/ E dentro de mim vão se afogando/ As canções, os amores, as ilusões…/ Mil tragédias pelo ar vão se afastando,/ Novos caminhos na Magia vou traçando./ Salve Deus! Minha missão, meu caminho…/ O que vejo, o que revelo/ E o que não posso ocultar…/ A dor enriquece a alma,/ Os prazeres nos ajudam a gostar!…”(Tia Neiva, Meu Retrato, 1978)

· “Oh, Jesus! Alguma coisa parecia estar me impulsionando para que eu sentisse o desejo de assumir um lugar diferente daquele que eu ocupava. Era um novo rumo para a minha jornada. Estava cansada… Como? Teria, então, mais e mais… tudo aquilo era pouco. Eu, o burrinho, estava leve. Seria isto, então? Até aquele momento eu era alguém de difícil entendimento, para com os outros e para comigo mesmo. Cansada, dormi debaixo de um pequizeiro. E, então, me transportei até o Tibet e, como sempre, fui ter com ele – Humarran! Estava em frente a ele, não tinha dúvidas. “Oh, meu querido Mestre!… Não sei se devo te chamar assim.” “Sim, minha pequena Natacha. Porém, antes, deves entregar teus olhos a Deus!” Levei os olhos para uma pequena janela, onde se via a luz do sol de uma tarde e disse: Jesus, arranque os meus olhos, se tudo for mentira!” E continuei com meu mestre: “Tens uma vida simples e dolorosa. Se fosse eu, não suportaria.” “E como!… Dolorosa, porém embebida de lágrimas santificantes do dever, da vida em luta, de renúncia sublime. Natacha, no mais íntimo do ser humano, que é o plexo, existem energias latentes, forças poderosas que não são exploradas senão excepcionalmente. Com a intervenção destas forças, podem ser curadas doenças do corpo e do caráter, digo, doenças físicas e morais.” Que movimento misterioso, que me surpreende… “Tudo deve ser silenciosamente, pelos movimentos psíquicos de cada faculdade mediúnica. Esta, uma vez desenvolvida, nos permite modificarmos nossa natureza, vencer todos os obstáculos, dominar a matéria e até vencer a morte, Natacha!” “Me chame Neiva – disse eu – gosto do meu nome.” “O princípio superior de todos os missionários é o trabalho. Sua ação será comparada a um ímã. Terás que viver, atraindo novos recursos vitais. Terás, também o segredo da evolução, das transformações de vidas, cujo princípio não está na matéria, mas sim, na própria vontade. Esta ação se estende tanto no mundo etérico como no físico, matéria. Tudo, filha, pode ser realizado no domínio psíquico, pelo amor, na ação da vontade, na Lei do Auxílio, princípio superior de todas as coisas. A potência da vontade de quem busca, honestamente, servir aos seus irmãos, não tem limites. E, quando dormimos, cansados, pensando, pensando com amor, servir alguém, nós nos transportamos e saímos pelos planos espirituais em seu socorro. A natureza inteira produz fenômenos, metamorfoses. Quando conheceres a extensão deste fenômeno, seus recursos, dentro de si mesma, deixarás o mundo deslumbrado…” “Meus caminhos!… Minha liberdade!…” – disse quase chorando. “Neiva, o que chamamos de liberdade?… Se existe em ti a mais poderosa fonte de energia, que pode arrebentar as mais fortes cadeias dos domínios psíquicos!” Segurou meus braços e uma sensação de força se introduziu em todos os meus movimentos. Senti-me forte e preparada para o combate. A cabeça um pouco dolorida, voltei novamente a luta na busca da sobrevivência. Despertei com alguém que dizia: “Neiva, tem aí um colega seu, querendo te ver. Diz se chamar Guido.” Oh, meu Deus! Gemi e tudo o que saía de minha cabeça, do meu cérebro, tinha um tumulto diferente, de pensamentos desiguais.” (Tia Neiva, 14.10.80 – ESCRITA EM 16 DE JUNHO DE 1979)

· “1958, 1959, 1960!.. Eu me ajoelhei todos os anos, e pedi a Jesus que arrancasse os meus olhos no dia em que eu deixasse de amar… Que Jesus arrancasse os meus olhos no dia em que eu dissesse alguma coisa que não fosse verdadeira, por vaidade ou por qualquer pretensão” (Tia Neiva, aula de 21.12.80)

· “Pondera o chão dos teus pés e verás que todos os teus caminhos serão retos porque, filho, a nossa lista é longa e, por cima dela, estamos a apagar os nossos rastros. Confio em vós outros na evolução desta Corrente, porque o Pai Seta Branca não segurou minha mão, mesmo nos primeiros passos de minha vida iniciática. Os fenômenos, somente, não nos esclarecem, pelo contrário, nos trazem conflitos. Só tomamos conta de nós nas coisas que caem em nossa individualidade, que remoemos junto ao coração. Vou contar a ti como tudo começou dentro de mim. Sim, filho, a minha personalidade marcante, científica, não me dava trégua. Vivia a comparar se tudo ou todas aquelas visões não passavam de uma estafa absurda. Eu estava com o caminhão, conversando com o Dr. Saião. Ele ventilou a hipótese de ir a um psiquiatra. Tudo muito bem. Saí dali conformada, que tudo era de minha cabeça, o Dr. Saião me tinha como uma filha e compreendia o meu conflito, também desconhecido para ele. Passando pela vila do IAPI entrei. Era um acampamento de hospital de socorro. Depois de grande custo, me sentei em frente do cientista e fui me expondo, contando tudo que se passava comigo. Sentia que alguém vinha nos perturbar. Realmente, alguém chegou em minhas costas. Era o pai do psiquiatra que havia morrido há sessenta e dois dias. Comecei a ficar com a voz ofegante. Aquela situação me oprimia, como explicar o que eu estava sentindo ao jovem médico? Comecei a fazer mímicas, apontando como polegar o lugar onde o mortinho estava, ao meu lado. Ele apenas dizia: “Não é nada, não é nada!” Porém, quando eu fazia menção de me levantar, eu notava que ele se resguardava com medo. E o mortinho insistia: “Diga, diga, que eu sou Juca, o seu pai! Diga!” “Nada! – disse eu alto – Nada! Chega de vocês, figurinhas, me colocarem em ridículo!” O médico disse, alto: “Quietinha, quietinha!” Fiquei quieta e começamos novamente. “Quantos anos tem?”- perguntou. “Tenho… vou fazer 34 anos!” De repente, o mortinho voltou e eu lhe disse: “Olha, doutor, tem um mortinho que se diz chamar Juca e é o seu pai e que tem 62 dias que morreu.” Foi, então, que tive a maior prova. O médico se levantou quase gritando: “É realmente meu pai! Meu adorado paizinho!” Quebrei a porta do escritório, não sei como! E saí dali pior do que cheguei. O fenômeno tão real e não me servia! Já na minha casa, chorava, sem esperanças. Mais ou menos três dias depois, fui trabalhar. Peguei o caminhão e fui descendo a primeira avenida. Senti que havia atropelado alguém. Um guarda que estava ali perto chegou, dizendo, logo que eu falei o que se passava comigo: “Procura um terreiro, morena.” Conflito, conflito… Desci até o bar do japonês e resolvi levar o carro e não trabalhar mais. Fiquei na porta do bar, que era também, posto. Em frente de um estacionamento de uma empresa de ônibus, algumas pessoas esperavam o carro para partir em diversos lugares. Nisto, eu vi na cabeça de um jovem, de mais ou menos vinte e seis anos, como uma imagem de televisão, uma mulher de vestido branco de bolas vermelhas e que se movimentava, fechando uma sombrinha azul escura. Vi os dois se beijando, porém o jovem embaixo deste quadro não se movimentava. Alguns segundos depois, eu vi a mulher virando uma esquina. Sim, ela chegou e fechou a sobrinha e os dois se beijaram. Sim, vi detalhe por detalhe… Nisto, uma voz soprou em meu ouvido: “Tens o poder de prever o futuro e o presente!” De repente, enquanto os dois estavam, vi o ônibus chegando, vi os dois entrando, e vi o ônibus tombando e vi seis mortos, inclusive a mulher do vestido de bolinhas! Era claro que iriam morrer! A curva era ali perto! Não deixarei! E assim, pensando em salvá-los, segurei no braço do jovem e puxei-o para dentro do bar. A mulher veio encima de mim, me descompondo e eu me limitava apenas a dizer: “Quero salvar vocês!” Porém, era pior. Nisto, o ônibus chegou e partiu. Nem o vi, apenas me defendia. Nisto o Japão e sua esposa vieram ao meu encontro e eu disse o que tinha acontecido comigo e o que vira. Porém, a curva era ali perto e logo tudo terminou. Enquanto ela me descompunha por ciúmes de mim, eu, imersa em meus pensamentos, pensava: será verdade? Como terminará tudo isto, meu Deus? Logo ouvimos o barulho. O ônibus tombara, matando quatro pessoas. Foi o pior espetáculo. Gritos, correria… E o casal japonês… Todos, agradecimento… Porém, eu não sabia o que me ia na alma. Somente uma coisa: Conheço o presente, o passado e posso evitar o futuro, se Deus permitir. Saí dali sem saber. Caminhava só, somente só. Pensava: “Adeus, minha mocidade… Porém, seja o que Deus quiser!” Apesar das pessoas me assediarem com pedidos, me aborrecerem… Porém, de uma coisa eu estava certa: Pisava ponderadamente no chão e tinha dentro de mim a individualidade. O meu raciocínio descobriu o que significava a minha missão. Sim, filho, devagar chegamos na nossa realidade.” (Tia Neiva, 23.5.81)

Seja bem-vindo ao vale dos deuses!