VALE DO GUAPORÉ
Nesta viagem fui recebido pelos Guaporés em suas terras no Mato Grosso. A beira do rio Guaporé eles estavam curiosos com a minha presença. Espiritualmente não estavam entendendo quem eu era e como um espírito foi até a aldeia.
Foi uma troca de conhecimento, sim, eu levei a ciência e eles a cura nativa.
São muito perseguidos pela riqueza natural, fazendeiros, garimpeiros e madeireiros atuam nesta região.
As etnias que vivem nesta região são indícios das colonizações que o Brasil sofreu desde o império. Este que me recebeu vive isolado do resto e cultiva hábitos selvagem, pois muitos de sua tribo foram mortos pelo homem branco.
Ele tocava em mim não acreditando ser verdade. Isolado ele conserva a ligação de toda tribo com seus ancestrais.
Espiritualmente há entendimento da linguagem que ele falava. Foi muito bom ter este contato, pois a solidão é como um câncer, a pessoa não sabe a hora que vai partir.
Sentado num tronco de árvore ele sorria com pequenas falhas na dentição. Mas o que mais me agradou foi conhecer este índio e viver a sua vida sentindo como é sua batalha para sobreviver em um mundo globalizado.
A floresta a noite é tão ou mais escura que a noite sem luar. Espantoso escutar os gritos dentro da mata. Você não sabe de onde vem e para onde vai. A única coisa é que você está ali entre vultos e surpresas.
Ascendeu o fogo com um graveto girando sobre madeira. Estava pronto para mais uma noite desafiando os perigos da floresta.
Eu fiquei surpreso, pois sem contato com demais povos ainda mantém acesa a chama da vida. Ele falava muito gesticulando seus braços para cima e para baixo.
Não teve medo e correspondeu com minha iniciativa de viajante.
Vale do Guaporés. Os descendentes foram chegando e a festa começou. Eu contei por cima uns 400 índios se reunindo espiritualmente. Foi como se todos se materializassem e participassem diretamente desta reunião.
Meu tempo estava chegando ao fim. Era hora de voltar. Com um grito o Tanaru se despediu sendo seguido pelos demais que não deu tempo de conhecer todos. Uma festa na mata no meio do nada.
Voltei. A terra tem tantas coisas ainda para serem descobertas que esta civilização vai se surpreender. Aos poucos eu vou indo preparando o local dos reencontros.
O único contato foi assim, espiritualmente.
Salve Deus!
Adjunto Apurê
An/Un
16.12.2022
