UM GRANDE NAVIO

UM GRANDE NAVIO
Uma viagem sem destino. O navio estava aportado com seus motores queimando combustível. Enorme fila se apresentava ao capitão com bilhetes em mãos. Homens de fraques e mulheres de gala sorrindo pelo convite. O capitão, meia idade, convencido, apertava as mãos dos viajantes. Ele me viu e convidou a entrar. Um grande salão central, muitas mesas e cadeiras espalhadas pelo interior. Puxei uma das cadeiras perto da escotilha e olhava para o balanço do mar. Comecei a escutar o ranger de ferro e aquilo foi me dando aflição. Algo não estava bem, algo que me deixou preocupado. Levantei e fui para o convés e a fila ainda estava entrando. Muita gente comemorando e casais enamorados sorrindo. Sentei no convés e o capitão veio ao meu lado.
_ O que acha desta beleza!
_ Ainda estou me ajustando e com sentimento ruim!
_ Relaxa, homem, aproveite esta viagem dos sonhos!
Me calei e aquietei. Minha vontade era pular dali e sair nadando para longe. Só não tinha feito para não dar margem a falatórios, pois era bem conhecido nesta região.
Eu não sei por quanto tempo ficamos parados neste cais esperando o último da fila chegar.
Finalmente terminou o embarque e eu não fui. Tive medo da intuição que se abateu em meu coração. Saí correndo pela rampa de acesso entre acenos de despedida dos embarcados e dos olhares em terra.
Fui embora, nem olhei para trás, não queria me sentir acovardado pelos olhares de quem partiria.
Tempo depois as notícias chegavam e eu senti remorso por não ter avisado. Mas eu falei ao capitão do medo daquele barulho de ferro retorcido. O ranger atingiu meus ouvidos e eu acho que ninguém ouvia pelos motores ligados. Era uma grande embarcação, mas tão grande que cabia muitas pessoas.
A minha solidão se apresentou como cobradora de mim mesmo. Eu não sabia se era por não ter ido junto ou se por não ter alertado.
Vejam como funciona a visão futuristica. Meu pai desencarnado veio me avisar que era pra não correr de carro naquela noite. Estava no aniversário de minha madrinha, sua irmã, em Curitiba. Ele chegou abraçou ela e veio até mim.
_ Não corra!
Falei pra minha irmã que o pai veio e contei o motivo. Festa encerrada pegamos o carro e fomos embora para Campo Largo. Eu estava bem devagar quando numa curva fechada a barra de direção estourou. Consegui segurar o carro na BR 277 e parar no acostamento. Era isso que ele veio me avisar.
Vejam como nós temos proteção se seguirmos as orientações espirituais.
Eu vejo aqui no templo Pai Seta Branca orientando seus filhos para os trabalhos, chamando, porque ele nos quer bem. Ele sabe que somente a caridade paga um prejuízo antes de acontecer. A caridade espiritual só se faz nos templos doutrinando e emanando. É a cura do nosso sistema interligado, uma complexa estrutura que nos faz viver.
Bom, ainda sentindo os efeitos daquela embarcação. Será que se avisasse eles entenderiam ou eu seria a chacota da vez. Ou era o destino deste povo.
Esta dúvida ainda carrego dentro de mim, mas agora como comandante desta nave eu tenho as rédeas do meu compromisso, salvar o maior número de espíritos que ficaram presos nesta dimensão.
Que Deus nos proteja e ajude nesta transição para a nova era. Todos os senhores deste universo estão prontos a intervir nesta jornada para não deixar afundar no vazio espaço esta embarcação.
Ouvi uma breve comemoração entre risos e palmas. Estou vivo. Parabéns.
Salve Deus!
Adjunto Apurê
An/Un
23.08.2022

Seja bem-vindo ao vale dos deuses!