CALVÁRIO

CALVÁRIO
“Pai, se queres, afasta de mim este cálice; entretanto, não seja feita a minha vontade, mas o que Tu desejas!”
A dor é algo semelhante ao parto, dói no momento da vida e depois esquece na passagem da morte.
Eu voltei por não saber amar. Voltei ao calvário, meu calvário. Entre gritos e prantos eu me vi nesta multidão que cuspiam no inocente levando sua cruz. A pior morte é ainda ter que levar seu destino nas costas.
Eu vi novamente aquele povo encardido com o coração magoado pelo ódio. Ali somente um amou com amor dos justos.
Foi traído pelos que mais amou. Foi um caminho triste dentro da história da humanidade. Esta viagem parecia ser hoje, intensa, profunda, marcante.
Era Jesus, meus irmãos, era o filho de todos nós carregando o nosso fardo. Foi ali que Deus não castigou a terra, pois o cordeiro intercedeu pedindo perdão:
“Pai, perdoa-lhes, pois eles não sabem o que fazem” (Lucas 23.34).
Foi então que o mundo não sofreu as mãos de Deus como testemunha da verdade.
Eu vi e ouvi. Sofri novamente vendo a verdade sendo julgada como traição. Jesus não traiu, mas foi traído.
Aqueles espíritos estavam todos reunidos no grande palco revivendo esta cena dantesca. A incompreensão os prendeu na ignorância humana.
Ao ver tanta dor eu voltei e aqui sentindo o arrepio dos gritos que ainda ecoam pelo espírito, arrependimento.
A pior dor de um encarnado é ser traído pelos seus amores. É ver que sua vida acaba ali na porteira do destino. Desiludido não abriu a cerca, não teve forças para chegar ao outro lado. Ficou vagando na escuridão do eu interior.
O que eu revivi esta madrugada seria o inferno astral desta humanidade. Nem todos estavam lá, mas todos hoje praticam o mesmo caminho.
Eu não sou a verdade, porém eu procuro ser verdadeiro para não enganar e ser enganado pelas falsas professias.
Jesus era um homem simples. Um espírito iluminado que foi apagado desta terra, mas sua luz cristica brilha em muitos corações.
Eu tive que reviver este momento para não esquecer a minha missão. Eu não traio para não ser traído. Sou homem como muitos que preservam sua identidade. Aquele que trai sempre será traído.
Ninguém é santo para chamar no arreio carmico os pecadores da nova era. Eu prefiro ser um pescador que um sofredor.
A pior dor do espírito é se tornar amargo como fel. Ali um milagre o transformou em mel.
Eu segui pela via sacra e nas 14 estações eu revivi a minha dor. Chorei enquanto riam de mim. Jesus não estava ali, somente os renegados ainda presos ao destino.
A paixão de Cristo Nosso Senhor. A terra ainda cultiva esta idolatria como sendo culpada pela sua morte.
“Que os mortos enterrem seus mortos”.
A minha dor é reconhecer os meus erros. Saber que o passado é uma escola do futuro.
Ninguém recorda, pois vive preso somente na tradição. Para quem sai da couraça e vai buscar respostas é como sentir a espada atravessando sua alma.
Riam, Chorem, mas não percam a fé em si mesmos. Não condenem seus amores. Eu respeito cada coração, pois cada um exprime o que trás dentro. Ódio e amor é como nitroglicerina que é diferente da TNT no seu poder destruídor.
Causa e efeito. Livre arbítrio.
Eu chorei. Eu me ajoelhei no corredor da morte. Senti tudo novamente.
Pai, afasta de mim este mundo de tormentas. Os de lá estão aqui na mesma roupagem encardida. Cegos, surdos e incompreendidos. Eu construi a tua casa que desmanchei por não saber amar. Tome de conta, pois sou somente um homem na multidão.
Salve Deus!
Adjunto Apurê
An/Un
14.12.2022

Seja bem-vindo ao vale dos deuses!