Eu comecei a ouvir um eco soando dentro da mata e fiquei tentando saber sua origem.
_ Carcará, pega, mata e come!
Carcará é uma ave de rapina que abate suas presas sem elas terem noção do perigo.
Eu me embrenhei na mata e fui pelo canto ao ponto de entrega. Cheguei. Era como se fosse um vulto de uma ave em cima de um bebê recém nascido. Toquei o maldito que estava prestes a devorar esta criança semi nua envolta a um pano e somente com uma toquinha, luvinhas e sapatinhos de lã branca.
Ao desembrulhar das folhas caídas eu recolhi este corpinho já em lágrimas pois não acreditava em tanta maldade. Trouxe para o vale espiritual e aqui a deixei.
O exu voou gritando pela sua encomenda dizendo se vingar pelo pacto quebrado. Ele, pelo que vi, vai atrás de quem encomendou esta atrocidade e a cobrança será mais terrível ainda.
O ser humano racional vai pagar pelo que faz, pelo que pede e pela justiça de Deus.
Exu Carcará é exímio caçador e exterminador a quem sua alma entrega. Assim como ele se compromete em fazer, faz, mas quando alguma coisa dá errado ele volta caçar quem lhe deve.
Eu fico atento aos sinais que a terra espiritual promove. Sons, cânticos, vozes surreais, barulhos silenciosos. Meus ouvidos captam os nuances da vida fora da matéria. Esta abertura tem suas vantagens e desvantagens. Vivo acelerado a muitos volts. É uma loucura o que acontece nos três reinos desta natureza, principalmente observando a maldade humana. Tem muitos seres que são do bem, que vieram com missão evangelizadora, porém são poucos em termos de amor ao próximo. Não entenderam está parte e confundiram entre fé, religião; verdade, razão.
Ainda vamos caminhar sobre os espinhos sangrentos pela nossa cruz alimentando os olhares que fecharão seus olhos.
Por ter este nome como ave de rapina e pela rapidez em abater suas presas ele foi invocado esta madrugada. É como uma sombra marrom que levantou vôo do chão. Ele não enfrenta, foge. Gosta de vir por trás e logo enfia suas garras.
Estamos em uma guerra espiritual contra os maléficos seres dos mundos negros. Estamos preparados ou não para este momento de saber o que fazer.
Entreguei a criança e fui cumprir meu caminho.
Sou cavaleiro verde especial.
Minha missão é o meu sacerdócio.
Sou filho da luz nesta escuridão que se abate sobre a terra atormentada.
Sou jaguar, sou irmão, sou pai e filho do Espírito Santo.
Sou cigano, já fui rei e pebleu.
Agora sou filho de Seta Branca meu pai.
Sai cantando esta cantiga e invocando meus senhores do céu.
Nossos espiritos se sentem maravilhados quando se vêem fora do corpo físico. É uma missão difícil aprender a sair da matéria, mas depois é tão bom que muitas vezes você nem pensa em voltar. O segredo dos espíritos é uma dádiva de Deus. Enquanto o lacre permanecer fechado todos viverão com seus olhos tapados.
Viva sua vida que pediu a Deus. Não se tornem obsoletos pela incompreensão.
Hoje é dia de amor.
Salve Deus!
Adjunto Apurê
An-Selmo Rá
30.06.2021