CHAPÉU DE PALHA


O mundo girou e ninguém disse nada.
Jantando no meu silêncio chegou um espírito com seu chapéu de palha em mãos. Eu não lembrava, pois eu não tive como enterrar seu corpo. Isso foi mais ou menos aos meus dezenove anos onde trabalhava em Brasília.
Falei com tia Neiva e ela afirmou que meu pai estava encaminhado.
Deste tempo eu reencontrei com ele várias vezes no seu mundo. Haviam várias pessoas num enorme pátio conversando. Todos de terno escuro. Fui andando entre eles e ao chegar ele se virou e me abraçou com tanta força dizendo: este é meu filho da terra.
Outras vezes estive com ele em outras situações.
Eu estava jantando quando chegou. Primeiro meu padrão espiritual sofreu uma decaída. Estas decaidas geralmente abrem sua defesa para receber visitas.
Ao olhar ele estava parado na passagem do corredor segurando seu chapéu de palha. Fazia anos que ele não vinha me ver. Pensei estar reencarnado já.
Ele veio sorrindo e queria falar, queria dizer algo. Não conseguiu pois os espíritos desencarnados perdem a condição da fala. Mentalmente manteve contato, mas a felicidade era grande.
Vejam, como falei acima, quando chega uma visita nosso mundo parece desabar em nossas cabeças. Não que isso seja normal entre os seres humanos, mas se diferencia pela mediunidade.
Eu fiquei feliz e apreensivo, porque algo está acontecendo. Ainda não sei. A 43 anos a minha historia começou de forma muito surreal. A vida é uma incógnita cheia de emoções. Triste realidade conviver entre dois mundos e saber que nada acontece por acaso.
Nossa faixa carmica cobra centil por centil as nossas juras. Quantas coisas, quantos caminhos. Fomos sempre como ciganos a viverem embalados pelo destino. Aonde o vento nos levar não se importando com o amanhã.
Eu dei boas vindas e tão logo ele partiu. Tem muitas coisas ainda pra fazer. Eu estou sentindo os efeitos desta transição.
Corpo, alma, espírito.
Salve Deus!
Adjunto Apurê
An/Un
06.01.2022

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