REUNIÃO


Fomos em dois nesta reunião na grande casa do amanhecer.
Convidei um jaguar que mora no sul do Brasil para irmos até o reino central para tentar apaziguar os corações dos jaguares. Eu saí primeiro do meu campo espiritual e tão logo cheguei ele chegou atrás. São viagens com destino certo e por isso cada missionários viaja sozinho. Nossa missão era com aquele jaguar, Filho de Seta Branca, um bom homem, mas duro na queda. Ele não aceita interferência de ninguém no seu comando. Adjunto Anavo e eu, Adjunto Apurê, estivemos na psique espiritual deste caminho para tentar pelo menos ouvir o clamor dele e do povo.
Houve reclamações de ambos os lados como críticas ao trabalho.
Ficamos horas a fio ouvindo as pessoas e dialogando com os espíritos. Surgiu uma senhora bem velhinha e negra. Já enrugada pelo tempo de escrava. Com sua saia estampada e blusa branca ia ensinando o amor dos nagos. Ela falava com humildade, devagar, parecia não ter forças, mas era um segredo dos grandes iniciados, tentar mudar o coração pela simplicidade. Ela se uniu nesta reunião, só quem a via era eu, os demais não, porque houve uma triangulação divina.
O jaguar, meu irmão, conhecedor deste principio tentou falar com o padrinho de sua filha e viu que era impossível abrandar aquele ranço. Sentimentos de superioridade que todos guardam nas entrelinhas do destino carmico, basta ascender o estopim.
Uma fila de espíritos se formou em frente a sua sala e todos querendo falar ou testemunhar este evento.
Eu fui andar pela terra sagrada do jaguar e o adjunto Anavo ficou para tentar comover aquele coração impregnado de sentimentos mil. Mil e umas palavras sopradas pela brisa de Aruanda. Todas desperdiçadas como uma prece sem fé que se a pessoa não aceitar elas caem ao chão. Vão adubar a sola dos sapatos.
Irredutível e irreconhecível.
Sentimos muito esta mudança de comportamento. Não está na organização cristica o enredo vivenciado.
Ouvimos e ouvimos. Eu procurei retirar deste povo suas armas com diálogo doutrinário. Doutrinar com amor e colocar perseverança nas suas decisões.
Logo haverá mudanças comportamentais, porque os espíritos só caem na realidade quando alguém mostra a verdade. Foi isso que fizemos, mostrar aquilo que ele não queria ver e aceitar.
Horas difíceis de manipular. Não fomos confrontar e sim unir. Unir como Seta Branca pede para todos viverem em paz. Só terão paz quando todos viverem a mesma lei.
A preta velha acompanhou todos os passos, Mãe Tildes com Gertrudes, que apareceu na mediunidade. Há uma preocupação com os laços emocionais deste comando. Reuniões e mais reuniões do comando superior, Ministros e Cavaleiros se organizando para limpar a área sagrada. Muitas interferências dos vales negros sobre as cabeças dos primeiros e primeiras. A tentativa é acabar com esta organização. Criar um campo de batalha e deixar os próprios soldados se matarem pela incompreensão.
Eles plantaram um espião que está sob suas ordens espirituais e este ser camuflado como camaleão tem passado despercebido. Ferrenho combatente de Seta Branca, mas até Deus tem seu inimigo. Aqui não seria diferente, os inimigos se reencontraram para dirimir suas dores pela doutrina.
Voltamos. Eu vim na frente e o outro Jaguar saiu após. Não nos encontramos no caminho, foi uma viagem de missão. Ela foi marcada espiritualmente e assim saímos cada um de um lugar específico.
Chegamos com os primeiros raios do sol na linha do horizonte. Estamos vivos e preparados para esta nova era do jaguar civilizado com coragem de mudar.
Só não podemos mudar os efeitos carmicos, mas podemos mostrar o caminho.
Salve Deus!
Adjunto Apurê
An/Un
07.12.2021

Em resposta do adjunto Anavo

O OUTRO LADO
Talvez, por ser mais passional, talvez por ter convivido longos anos em mundos negros antes do resgate proporcionado por meu Cavaleiro, em um preço que sempre considerarei uma dívida de amor impagável, eu vi muito mais o que se passava do outro lado…
 
Não o vi como o Filho de Seta Branca, mas como o jovem coronel que sempre almejou ser general e nunca conseguiu. Seu uniforme era negro e seus “radares” não eram os símbolos da Luz que conhecemos, mas sim medalhas usadas nos anos 30/40. Não havia uma capa marrom, mas um sombrio casaco negro de couro brilhante e soturno.
 
Ao seu lado não eram espiões, mas um grupo que carregava sorrisos sarcásticos somados a certeza da vitória.
 
As argumentações valiosas e poderosas não eram ouvidas como verdades a serem refletidas, mas soavam aos seus ouvidos como as loucuras de derrotados.
 
A imposição pela estratégia e força bruta ofuscavam a presença dos Mentores, que, respeitosos do livre-arbítrio, e sabedores das dívidas kármicas, nada interferiam além da inócua projeção de luz face a tanta escuridão. Serviam apenas para nos manter vivos e protegidos.
 
Embora passional, sempre fui um conciliador, mas o espartano dentro de mim gritava para sacar a espada e crer que receberia a assistência luminosa para acabar de vez com aquela conversa inútil, dando cabo desta etapa kármica que, em meu entendimento, já ultrapassava os limites da justa cobrança. Mas recordei de Judas, traindo Jesus porque acreditava que ele se revelaria em grande poder, porém, ao contrário, o Mestre entregou-se aos seus algozes.
 
Esperei você sair, respeitando sua companhia espiritual, e então disse claramente sobre os custos do que ele estava fazendo. Não teci críticas, não falei sobre como poderia ser, e nem relatei os sofrimentos que o espírito de Tia sofre ao ver a construção do Oráculo de Koatay 108 interrompida pela vaidade e ganância de quem foi por ela pessoalmente assumido como missão familiar.
 
Falei das dores a serem enfrentadas e do custo eterno a ser cumprido na consciência que o conduzirá às mais tristes penas da reclusão espiritual. Falei das dores que enfrentei até o momento de meu próprio resgate espiritual. Falei que o irmão já o esperava, e que, mesmo recebendo tantas vibrações pela “santidade” que tentam lhe atribuir, esperava pagando o preço pelo fim da força cabalística, e que o preço pelo fim da força iniciática seria maior.
 
Por fim prometi que eu mesmo me encarregaria de encontrá-lo, não para o resgate, mas para garantir o cumprimento da justiça. Sei que pode não concordar, por isso esperei que saísse.
Fraterno abraço, meu mano velho

Seja bem-vindo ao vale dos deuses!