A GRANDE PROCURA


Voltamos para procurar. A irmã de minha esposa sumiu sem deixar rastros e nunca mais tivemos notícias dela e de sua família. Ela morava no Ceará e quando viemos de Brasília para Curitiba os caminhos se desencontraram.
Esta madrugada achei onde ela estava e levei Zélia para se reencontrar. Neste quadro espiritual os espíritos vivem suas individualidades e com o tempo vão esquecendo seus parentes.
Ao chegar onde ela vivia deu pra notar, mesmo fazendo as apresentações ela não reconhecia. Foi lembrado dos irmãos falando seus nomes e mesmo assim ela olhava descrédula como uma pessoa estranha. Ela deu a entender que este mundo a fez vítima de suas dores. A pior dor é esquecer quem foi, quem é, pois não existem remédios que tragam as lembranças da terra.
Ela estava inchada e sentada num sofá antigo. Era uma casinha azul clara muito humilde.
Por mais que tentassemos clarear sua mente os traços familiares perderam seus vínculos. Tentamos, mas tudo em vão. Eu olhei para Zélia e fiz sinal com a cabeça que não adiantava. Zélia sentiu que sua irmã agora era uma estranha. Uma lágrima desceu e querendo esconder a verdade falou sobre sua vida quando criança moravam no Piauí. De sua mãe. Nada.
Ela somente falava com seus olhos descrente sem gesticular uma palavra. Ela sofreu muito em vida carregando os martírios de sua reencarnação compromissada a não deixar faltar nada, naquele sertão, para seus filhos. Somente restou esta marca.
Já procuramos por todo Brasil ter noticias deles e nenhuma pista do paradeiro. Somente hoje fomos reencontra-la bem longe daqui. Tão longe que ela também esqueceu quem era.
O mundo dos espíritos é assim, se não tiver rastros que se liguem o desligamento temporal acontece de forma a reparar uma grande dor. Justamente foi o que aconteceu com ela que queria esquecer tudo que se passou nesta vida.
Ficamos um bom tempo com ela para alimentar a esperança de pelo menos encontrar um elo que fosse. Até parecia que éramos completamente estranhos. Eu procurei e encontrei. Dei um cutucãozinho na minha esposa, tava na hora de voltar. Do jeito que ela nos recebeu ficou. Somente olhava sem reação e sem se levantar.
Peguei minha ninfa pela mão e tão logo chegamos em casa. Senti entrarmos no físico e acalentrar nossos corpos com nossa presença. Tava gelado e aos poucos o calor foi tomando conta.
Pai Seta Branca está aqui realizando sua missão de amor. O povo já está trabalhando.
Neste momento recebi uma mensagem da terra, lá do Goiás, de um presidente de um templo. Ele veio com grosserias me falando que isso, que aquilo. Eu olhei pela janela quem era e vi também a cruz pintada em sua testa. A marca da morte. Que Deus nos proteja de nós mesmos.
Salve Deus!
Adjunto Apurê
An-Selmo Rá
19.06.2021

Seja bem-vindo ao vale dos deuses!